Alexandre Schwartsman: "Há espaço para mais cortes dos juros"

Por Redação em 05/08/2020 às 19:47:55

O frágil cenário econômico causado pela pandemia do novo coronavírus permitiria ao Banco Central (BC) reduzir a Selic para abaixo dos 2% anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira, 5, afirma o economista e ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman. A redução de 0,25 ponto percentual foi a nona seguida, e deixa a taxa de juros no nível mais baixo da história. "Acredito que teria espaço adicional para reduzir e tentar dar um impulso maior para a economia", afirma o economista. A redução isolada da taxa de juros, porém, não deve gerar grande impacto para a retomada da atividade econômica. O movimento do BC, segundo Schwartsman, faz parte de um conjunto maior de medidas para que os índices da atividade econômica voltem ao nível pré-crise a partir do próximo ano. "O impacto não é imediato, mas de alguma forma irá balizar o juros por um período de um ano, ou até mais. E os juros são relevantes para o crédito, então deve ajudar em algum grau na recuperação em 2021."

Segundo o ex-diretor do Banco Central, a retomada das atividades econômicas estão atreladas ao controle da pandemia do novo coronavírus. Caso não haja uma redução do número de contágios, e consequentemente a flexibilização das medidas de isolamento social, se torna difícil estimar a recuperação no curto e médio prazo. "Ao contrário dos países europeus, que tiveram um pico de contaminação, mas que depois despencou muito rápido, nós ainda estamos em um patamar de mortes muito elevado. Pelas indicações, nós não venceremos essa epidemia neste mês, nem no próximo", afirma.

Leia também

Fernanda Consorte: Primeira semana de agosto será de 'morde e assopra' da agenda econômica

Trindade: Até liberais já acreditam na criação de 'renda básica'

Lobo-guará, que vai estampar a nota de R$ 200, está ameaçado de extinção

Diante deste cenário, Schwartsman defende que os pacotes de ajuda lançados pelo Ministério da Economia, como o auxílio emergencial, sejam estendidos para os próximos meses, mesmo que seja com um valor abaixo do atual. "Estamos pagando isso com um grande aumento do endividamento, o que vai se tornar um problema nos próximos anos, mas não temos muitas alternativas. Em algum momento o benefício precisará ser encerrado, de preferência que seja quando a questão da pandemia estiver resolvida". O governo federal afirmou que cada parcela do auxílio emergencial custa R$ 50 bilhões aos cofres públicos. O economista classifica o papel do Ministério da Economia como coadjuvante nas ações de combate à crise. Segundo ele, falta competência ao governo para lidar com a situação. "Começa pelo ministro da Economia, que fala muito e faz muito pouco. Me parece que o país se encaminha para um descontrole fiscal, justamente pela falta de comando, articulação e capacidade de entrega", diz.

Junto com o anúncio da redução da Selic, o Banco Central não sinalizou que "fechou a porta" para novos cortes, e submeteu uma nova alteração mediante aos impactos da redução na inflação. O mercado estima a elevação da taxa de juros para 3% em 2021, e 5% em 2022, segundo o boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 3. O economista afirma que o BC já sinalizou em outras oportunidades a paralisação das reduções, mas recuou da decisão. A reavaliação do ciclo de cortes dependerá do prolongamento da crise sanitária da Covid-19 e os seus impactos na economia. "Nós estamos vivendo em um novo mundo. Nunca passamos por uma pandemia como essa nos últimos 100 anos, então é difícil imaginar como as coisas vão reagir. Em condições de uma certa normalidade do ponto de vista da epidemia, a gente pode ter recuperação", afirma o ex-diretor do BC.

Fonte: JP

Comunicar erro

Comentários