Por que o título do Palmeiras na Copa Rio de 51 foi tão importante quanto um Mundial?

Por Redação em 07/02/2021 às 09:24:18

Às vésperas da estreia do Palmeiras no Mundial de Clubes de 2020, diante do Tigres (México), no Catar, às 15h (de Brasília) deste sábado, a polêmica sobre a conquista da Copa Rio de 1951 volta à tona. Afinal, o Verdão é ou não é campeão do mundo? Presidente da Fifa, o italiano Gianni Infantino descartou fazer qualquer equivalência do torneio realizado no Brasil com o tradicional Mundial na última vez em que foi perguntado sobre o tema. Ainda assim, recentemente, a entidade máxima do futebol reconheceu o Alviverde como “o primeiro vencedor de um torneio internacional de clubes”. Independente da nomenclatura, há vários fatores que transformam o campeonato disputado na metade do século passado tão especial quanto a competição atual.

A Copa Rio de 1951 foi idealizada por Mário Leite Rodrigues Filho, jornalista que hoje batiza o estádio do Maracanã, e contou com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e de Ottorino Barassi, então secretário-geral da Fifa e entusiasta de um campeonato mundial entre equipes. No entendimento de Mário Filho, o Brasil precisava dar uma guinada após a seleção perder a Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai, justamente no principal estádio do país, no Rio de Janeiro, na derrota que ficou conhecida como “Maracanazo”. A intenção era organizar um torneio com 16 times, mas os problemas de logística da época derrubaram a ideia. Ainda assim, Juventus (vice italiana), Palmeiras (campeão paulista), Vasco (campeão carioca), Áustria Viena (campeão austríaco), Sporting (campeão português), Estrela Vermelha (tricampeão da Copa da Iugoslávia), Nacional do Uruguai (campeão uruguaio) e Nice (campeão francês) foram convocados.

“Os critérios foram bem definidos para essa competição, que também levava o nome de Torneio Internacional de Clubes Campeões. O grau de dificuldade demonstra o relevo desse torneio”, disse o historiador Fernando Galuppo, em entrevista à Jovem Pan. “A Juventus tinha como base vários jogadores da seleção italiana, como Carlo Parola, Ermes Muccinell, Giampiero Boniperti, Karl e John Hansen, além do Praest, artilheiro da competição, jogador de alto nível. Os times da França e da Iugoslávia eram base das suas respectivas seleções. O Vasco era aquele time chamado de Expresso da Vitória, sendo a base da seleção da Copa com Barbosa, Danilo Alvim, Eli, Augusto, Maneca, enfim… O Nacional também tinha jogadores que atuaram na Copa de 50, como Júlio Pérez, José Santamaria e outros. Já o Sporting tinha atletas muito expressivos na Europa, entre eles, uma curiosidade: o pai de Jorge Jesus, técnico que brilhou no Flamengo e com história consagrada no futebol português. O Palmeiras tinha um grupo já firmado, com conquistas expressivas no cenário nacional, contando com Juvenal e Jair Rosa Pinto, que disputaram o Mundial de 50, além de Rodrigues, Oberdan, Canhotinho, Lima… Um grande esquadrão”, destacou.

Assim, os oito times foram divididos em duas chaves: o Grupo A, com Vasco, Áustria Viena, Nacional e Sporting; e o Grupo B, que tinha Palmeiras, Juventus, Estrela Vermelha e Nice. Na semifinal, o Verdão acabou levando a melhor sobre o time carioca ao vencer por 2 a 1 a primeira partida e empatar a outra em 0 a 0. A Velha Senhora, por sua vez, garantiu a classificação ao eliminar o time austríaco. Na decisão, o Alviverde ganhou o primeiro confronto dos italianos por 1 a 0 e empatou o segundo em 2 a 2, faturando o primeiro título intercontinental de clubes. “No primeiro jogo, o Palmeiras conseguiu a vitória por 1 a 0 com gol do Rodrigues, fazendo com que na partida de volta o time pudesse jogar por um empate. No segundo, os italianos tiveram um domínio técnico e abriram uma vantagem no placar logo cedo. O Palmeiras conseguiu uma reação, mas os adversários fizeram 2 a 1. Porém, em uma jogada mágica no talento do Liminha, que partiu da intermediária em direção ao gol, ele driblou vários adversários até entrar com bola e tudo em um gol antológico da história do futebol brasileiro, do Palmeiras e do Maracanã. Jogo muito tenso, muito pegado, com algumas confusões entre os atletas”, contou Galuppo.

Para Mauro Beting, a discussão sobre o torneio ser ou não um Mundial de Clubes é válida. Apesar disso, o comentarista do Grupo Jovem Pan considera que nenhum time reconhecidamente campeão do mundo enfrentou mais dificuldades do que o Palmeiras de 1951. “Uma coisa é fato: foi a primeira conquista intercontinental de um time brasileiro. O Palmeiras entrou com a bandeira do Brasil debaixo do próprio escudo e as mais de 116 mil pessoas presentes no Maracanã não gritavam "Palmeiras". Gritavam "Brasil". Fosse o Vasco, Corinthians ou qualquer outra equipe brasileira, teria o apoio do Brasil e de toda torcida de São Paulo porque, quando o Palmeiras retornou do Rio, o Trem de Prata, que passou por várias cidades fazendo festa, recebeu quase 1 milhão de pessoas nas ruas, sendo parabenizado por presidentes de Corinthians, São Paulo, Santos, Portuguesa e outros times”, ilustrou Beting. “Se é ou não Mundial, é uma longa e gigantesca discussão. O que não dá é para menosprezar a Copa Rio de 51. Desde, 1960, quando tivemos o primeiro Mundial Interclubes, até 2004, passando pelo título conquistado pelo Corinthians em 2000, e a unificação dos Mundiais a partir de 2005, nenhum torneio foi tão longo para sacramentar um campeão quanto o de 51, com sete jogos até a taça e grandes adversários”, completou.

A repercussão quanto ao título também foi digna de um Mundial de Clubes. Segundo o historiador Fernando Galuppo, muitos jornalistas internacionais que cobriram a Copa do Mundo de 1950 retornaram ao Brasil para acompanhar a Copa Rio. “Teve ampla difusão nos principais jornais de todo o mundo. Houve cobertura cinematográfica de diversos veículos e produtoras. Inclusive, recentemente, foram encontrados registros da partida em posse do Instituto Mussi, da Itália, que é uma agência cinematográfica. Uma agência de cinema que tem gravado trechos de toda essa grande competição. Portanto, uma competição de afirmação, num momento de pós-guerra, de reabertura do mundo e um sonho da Fifa desde o seu início, no final do século 19, que sonhava em ter uma competição internacional de clubes e que conseguiu ter êxito a partir dos anos 1950”, finalizou.

Veja vídeos produzidos pelo Palmeiras sobre a Taça Rio:

Fonte: Gazeta

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