Inflação subiu mais rápido do que o esperado e deve atingir o pico em setembro, diz Campos Neto

Por Redação em 04/10/2021 às 19:33:01

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 4, que a inflação subiu mais rápido do que o esperado e deve atingir o pico em setembro. A prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação doméstica, foi a 1,14% no mês passado, e teve alta de 10,05% no acumulado de 12 meses. Os dados consolidados serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 8. Apesar da alta, pressionada principalmente por choques no valor dos alimentos e preços administrados, Campos Neto afirmou que flexibilizar a política monetária iria gerar perda de confiança e queda na potência da política monetária. “Entendemos que é importante debelar esse processo de desancoragem [das expectativas para a inflação] e disseminação da inflação”, afirmou. O presidente da autoridade monetária voltou a dizer que o BC vai continuar com a alta dos juros até que a meta para a inflação seja contemplada. “A Selic vai atingir o nível necessário para ancorar as expectativas. Queremos fazer o nosso trabalho, entregar a inflação na meta. Não vamos fazer ajustes nesse arcabouço”, disse em entrevista ao jornal Valor Econômico. O Comitê de Política Monetária (Copom) acrescentou 1 ponto percentual na Selic em setembro, elevando os juros para 6,25% ao ano, e indicou nova alta na mesma magnitude no encontro. Segundo Campos Neto, o foco das mudanças miram as projeções para 2022.

O mercado financeiro elevou as expectativas para a inflação deste ano e de 2022, segundo Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira pelo BC. A mediana para o IPCA, passou para 8,51% em 2021, ante projeção de 8,45% na semana passada. Esta foi a 26ª edição seguida de revisão para cima. O BC persegue a meta inflacionária de 3,75% neste ano, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 2,25% e 5,25%. A constante revisão da previsão do IPCA para este ano já contamina as expectativas para 2022. Para o ano que vem, os analistas estimam alta de 4,14%, acima da previsão de 4,12% da semana passada. Foi a 11ª edição consecutiva com aumento da expectativa. Para 2022, a autoridade monetária nacional persegue a meta de 3,5%, com variação entre 2% e 5%. Segundo Campos Neto, a crise hídrica e a inflação carregada pela retomada do setor de serviços são desafios para trazer a inflação para baixo no próximo ano. O presidente também citou o cenário fiscal, principalmente as dúvidas em relação ao financiamento do novo Bolsa Família. “É importante virar a página nesse tema que gera alguma incerteza em relação ao arcabouço fiscal”, disse.

O presidente do BC ainda negou que tenha criticado o ritmo de repasses da Petrobras, o que acaba influenciando na elevação dos preços dos combustíveis e na alta inflacionária. “Jamais, em nenhum momento, vou comentar ou sugerir o que a Petrobras deve fazer com os preços”, afirmou, emendando que é contra a política de subsídios. Campos Neto também comentou sobre o aumento de gastos públicos e como a alta de investimentos do governo pode prejudicar a retomada da economia. “Estamos em um ponto de convergência onde não necessariamente jogar muito mais dinheiro vai fazer com que a economia cresça muito mais”, afirmou. “O efeito na desorganização de preços vai ser mais forte do que o efeito benéfico do novo dinheiro em circulação.”

O chefe da autoridade monetária voltou a negar irregularidades no seu envolvimento com offshores em paraísos fiscais. Um vazamento de dados divulgado neste domingo, 3, revelou que Campos Neto manteve uma empresa no Panamá até agosto de 2020, quando já estava à frente do BC há mais de um ano e meio. A legislação brasileira permite a abertura de empresas em paraísos fiscais, desde que os dados sejam repassados à Receita Federal. O Código de Conduta da Alta Administração Federal, no entanto, proíbe que servidores de alto escalão mantenham investimentos, dentro ou fora do país, que possam ser afetados “por decisão ou política governamental a respeito da qual a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo”. Segundo Campos Neto, nenhuma remessa de valores foi feita para a empresa desde que ele assumiu o cargo, no início de 2019. “Está tudo declarado, inclusive com acesso público pelo site do Senado. Não fiz nenhuma remessa para a empresa em nenhum momento desde que cheguei ao governo. E não fiz nenhum investimento financeiro em nenhuma empresa.”

Fonte: JP

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