Caso Maurício Souza divide mundo do esporte, respinga em Casagrande e se estende para a política

Por Redação em 30/10/2021 às 09:34:24

O mundo do esporte “rachou” com a repercussão do caso do jogador de vôlei Maurício Souza, demitido pelo Minas Tênis Clube após tecer comentários homofóbicos nas redes sociais. Tudo começou no último dia 15, quando o campeão olímpico registrou em seu Instagram o descontentamento com a notícia de que Joe Kent, filho do Super-Homem e herdeiro do título do pai, revelou-se bissexual nos quadrinhos da DC Comics. “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa para ver onde vamos parar.” Douglas Souza, companheiro de Maurício na Tóquio 2020 e homossexual assumido, rebateu: “Engraçado que eu não "virei heterossexual" vendo os super-heróis homens beijando mulheres. Se uma imagem como essa te preocupa, sinto muito, mas eu tenho uma novidade para sua heterossexualidade frágil”. Em sua tréplica, o ex-atleta do Minas disse que não abrirá mão de suas crenças. “Hoje em dia, o certo é errado e o errado é certo. Não se depender de mim.” A partir daí, uma série de esportistas tomaram lado e até políticos entraram no meio da briga.

Estrelas do vôlei feminino, Carol Gattaz e Rosamaría repudiaram as declarações do central. O treinador Renan Dal Zotto, da seleção brasileira masculina, chegou a fechar as portas do time nacional para o veterano de 33 anos. Ativista em prol de minorias, a ex-nadadora Joanna Maranhão tirou sarro dos recorrentes vídeos que Maurício Souza fez para tentar limpar a barra (todos eles de maneira pouco convincente). “Sem clube e sem seleção. Blogueirinho. Enquanto o Douglas está lá, jogando na Itália, sambando na cama da vila, desfilando na quadra e sendo peça fundamental para a tomada de c* que tu levou, otário invejoso”, disparou. Já Casagrande, comentarista da Globo, questionou o caráter de Maurício. Do outro lado, vários esportistas se solidarizaram a ele, especialmente após a saída do Minas por pressão da Fiat e da Gerdau, patrocinadores do clube. Ficaram ao lado do grandalhão de 2,09 m personalidades como ex-levantador Ricardinho, o jogador de basquete Nenê Hilário, o meio-campista palmeirense Felipe Melo, o atacante Fred, do Fluminense e o volante Souza, com passagens por Grêmio e São Paulo. Este último chegou a tomar as dores do amigo para rebater Casão. “O Casagrande vive ofendendo atletas. Vamos começar a ofendê-lo também”, incentivou o jogador do Besiktas. O tenista João Souza, o Feijão, também dispensou comentários nada elogiosos ao comentarista global. “Não ligue para o aspirador de pó”, ironizou, fazendo piada com a dependência química do ídolo do Corinthians.

O debate extrapolou o mundo esportivo e se estendeu à esfera política. Próximo à família de Jair Bolsonaro (sem partido), Maurício Souza viu quase todo o clã sair em sua defesa. “Puta que o pariu, impressionante né? Tudo é homofobia, tudo é feminismo”, disse o presidente da República, em fala transmitida por suas redes sociais. O senador Flávio Bolsonaro, por sua vez, preferiu incentivar um boicote às empresas Fiat e Gerdau, patrocinadoras do Minas, que pressionaram o clube a punir o atleta. Eduardo, deputado federal, e Carlos, vereador, solidarizaram-se ao jogador de vôlei (e criticaram Casagrande) nas redes sociais. Até a primeira-dama Michelle apareceu no perfil de Maurício, em um post no qual o campeão olímpico reclamou do “ódio do bem” de Casão, para manifestar apoio. “Que desrespeito com o nosso atleta medalhista, gente”, disse a esposa de Jair.

O Instagram de Maurício acabou virando uma grande reunião de conservadores, alguns deles integrantes ou ex-integrantes do governo Bolsonaro. O secretário de Cultura, Mario Frias, aplaudiu o texto no qual o central diz “continuar seguindo o que acredito”. Os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), os deputados federais Carlos Jordy (PSL-RJ) e Carla Zambelli (PSL-SP), os deputados estaduais Coronel Sandro (PSL-MG) e Gil Diniz (sem partido-SP, conhecido como Carteiro Reaça), e o vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira também deram as caras por lá. Em duas semanas, o jogador de vôlei passou de 200 mil seguidores para 1,8 milhão até a conclusão desta reportagem.

 

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No outro espectro da política brasileira, um grupo de 20 parlamentares trans, lésbicas, bissexuais e gays de 13 Estados e sete partidos políticos distintos encaminharam uma denúncia contra Maurício Souza ao Ministério Público de Minas Gerais. Entre os parlamentares que assinaram o documento estão os deputados federais David Miranda (RJ) e Vivi Reis (PA), ambos do PSOL. “É preciso lembrar que LGBTfobia é crime e que não podem nos tratar como aberrações e dizer "é só uma opinião'”, declarou Monica Benício, outra signatária. Por meio de suas redes sociais, diversos políticos de esquerda se manifestaram “contra qualquer tipo de preconceito” em meio ao caso envolvendo o jogador que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.

Em entrevista ao Canal do Pilhado, comandado pelo jornalista Thiago Asmar, da Jovem Pan, Maurício assegurou que não vai mudar e que só pediu desculpas para não prejudicar sua equipe, ameaçada de perder patrocinadores. “O que estava acontecendo no meu clube era insustentável. A pressão por ter colocado a minha opinião… Eu sei que não estava errado, mas tinham coisas maiores por trás. Vou continuar da mesma forma. Sempre coloquei meus valores, o que eu acreditava. Sempre fiz isso, desde que eu era ninguém. Eu não vou mudar para agradar. Vou postar o que acho importante, o que acredito, o que acontece no país”, anunciou. “E a galera pode ficar sossegada, daqui alguns dias estou em outra equipe.”

Confira alguns posts sobre o caso Maurício Souza:

Fonte: Gazeta

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