PIB do Brasil cai 0,1% no terceiro trimestre e piora estagnação da economia

Por Redação em 02/12/2021 às 09:45:56

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro retraiu 0,1% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado, o segundo negativo após a queda de 0,1% no segundo trimestre, coloca a economia brasileira em recessão técnica e reforça a estagnação das atividades econômicas em meio ao avanço da inflação e da aceleração dos juros. Entre janeiro e março, o PIB registrou alta de 1,2%. Em paralelo ao mesmo período de 2020, a economia avançou 4%. Em valores correntes, o PIB, que é a soma dos bens e serviços produzidos no Brasil, chegou a R$ 2,2 trilhões. A queda foi puxada pela indústira, com retração de 8%. A agricultura ficou estável com variação de 0%. O setor de serviços — o mais beneficiado pela flexibilização das atividades econômicas entre julho e setembro —, evitou um desempenho mais negativo da economia ao crescer 1,1% na comparação com os três meses anteriores.

O baixo ritmo das atividades no terceiro trimestre era esperado após a desaceleração dos principais indicadores econômicos no período. O Índice de Atividades Econômicas do Banco Central (IBC-Br), considerado a prévia do PIB, apontou retração de 0,14% entre julho e setembro. O valor é semelhante à retração de 0,1% projetada pelo Monitor do PIB publicado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A queda acentuada da produção industrial já era observada pelas pesquisas mensais publicadas pelo IBGE, que indicaram desempenhos negativos nos três meses encerrados em setembro. As vendas no varejo, que traduzem a demanda dos brasileiros, performaram negativamente em agosto e setembro. O setor de serviços, que vinha em trajetória positiva em meio ao avanço da vacinação contra a Covid-19, perdeu fôlego e ficou no vermelho em setembro após cinco meses positivos.

A estagnação da economia doméstica está alinhada ao aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação brasileira, e a escalada dos juros pelo Banco Central (BC) no esforço de controlar a variação de preços. A inflação foi a 10,25% no acumulado de 12 meses em setembro, rompendo a barreira dos dois dígitos pela primeira vez em cinco anos — e se manteve em trajetória de alta em outubro e novembro. O aumento da volatilidade dos preços, principalmente nos combustíveis e na tarifa da energia, é um fenômeno que atinge as principais economias do mundo em meio ao processo de retomada das atividades pós-crise da Covid-19. No Brasil, no entanto, o fenômeno é acentuado pela combinação da desvalorização do real ante o dólar e o aumento da percepção do risco fiscal pelo mercado financeiro. Em resposta, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aumentou os juros para 6,25% no fim de setembro ao somar 1 ponto percentual na Selic. O ritmo foi intensificado no encontro de outubro, com o acréscimo de 1,5 ponto percentual, elevando a taxa para o atual patamar de 7,75%. O colegiado sinalizou nova alta de mesma magnitude em dezembro, encerrando a Selic a 9,25% ao ano em 2021.

A queda das atividades econômicas somada à inflação alavancada reforçam que o Brasil caminha para um cenário de estagflação a partir de 2022. O fenômeno, que reúne o “pior dos dois mundos” da economia, se reflete na sociedade de forma perversa com o agravamento da taxa do desemprego, corrosão do poder de compra da população e diminuição no ritmo e volume de investimentos. A consolidação do quadro negativo é apontada semanalmente pelo mercado financeiro através do Boletim Focus, a pesquisa do Banco Central (BC) que reúne a mediana das previsões para a economia de mais de uma centena de instituições. Nesta semana, a estimativa para a inflação do ano que vem foi a 5%, o limite da meta perseguida pelo BC, com centro de 3,5% e piso de 2%. Já a projeção para o PIB foi rebaixada para 0,58% — opiniões mais pessimistas indicam até desempenho negativo da atividade econômica. Para este ano, os analistas do mercado projetam avanço de 4,78%. As previsões dos analistas são contestadas pelo Ministério da Economia, que prevê alta de 5,1% do PIB em 2021, e de 2,1% no ano que vem. O chefe da equipe econômica, Paulo Guedes, mantém o discurso de que a economia brasileira está voltando em “V” — quando uma forte queda é seguida de um crescimento robusto —, e afirmou nesta terça-feira, 30, que o Brasil “está condenado a crescer”.

Fonte: JP

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