Pacientes com doenças intestinais relatam falta de remĂ©dios de alto custo do SUS

Por Redação em 23/05/2022 às 17:45:51

De acordo com o médico Rogerio Serafim Parra, responsável pelo ambulatório de DIIs do hospital, o paciente com doença leve que fica sem os medicamentos pode voltar a ter alguns sintomas, mas os pacientes graves sem a medicação podem precisar ser internados.

É o caso de Tatiana, 26. Ela mora em Arealva e pega a medicação em Bauru, também no interior paulista. Ela descobriu que tinha retocolite ulcerativa há dois anos e, desde então, foi internada duas vezes por falta de medicamentos, em 2020 e 2021.

Tatiana está grávida de sete meses e recebeu a última aplicação do infliximabe em março –ela precisa tomá-lo mensalmente. Relata que está em crise de diarreia hemorrágica devido à falta do remédio.

“É impossível ter a medicação de outra maneira a não ser pelo SUS. São medicamentos caríssimos”, diz.

Na última semana, dois pacientes que estão sem o infliximabe foram hospitalizados em Ribeirão Preto. O atraso na entrega também foi relatado por pacientes em pelo menos duas outras cidades do estado: Guarulhos e Sorocaba.

Segundo a Coordenadoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a aquisição e a distribuição do infliximabe são de responsabilidade do Ministério da Saúde.

Ainda de acordo com o órgão, as farmácias de alto custo do Estado já receberam o produto, mas “desde o ano passado, os medicamentos de responsabilidade federal têm sido abastecidos com atrasos e entregas parciais”.

A reportagem também entrou em contato com a Farmácia de Medicamentos Especializados de Ribeirão Preto, mas não obteve resposta.

A falta do medicamento não se restringe a São Paulo. Segundo o médico Nestor Barbosa de Andrade, supervisor do ambulatório especializado de doenças inflamatórias intestinais do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, os pacientes do estado podem demorar até dois meses para começar a receber as medicações.

De acordo com ele, o atraso ocorre devido à centralização da distribuição em Belo Horizonte. Em cidades menores, a demora pode ser ainda maior.

A estudante Joice Cruz, 24, que mora em Uberlândia e descobriu ter a doença de Crohn há dez anos, relatou já ter precisado passar por cirurgias extras devido a complicações decorrentes da falta de medicamentos.

Segundo a Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais, os motivos da indisponibilidade de medicamentos no setor público são variáveis. A pasta diz que, atualmente, apenas o estoque de mesalazina de 800 mg (um cicatrizante intestinal) está desabastecido devido a um atraso do fornecedor.

Questionada sobre se estuda ampliar o número de pontos de retirada dos medicamentos de alto custo no estado, a secretaria não respondeu.

O Ministério da Saúde disse que o estoque para atendimento dos meses de abril e maio já foi entregue ao estado de São Paulo e que a distribuição do restante está prevista para o início de junho. O ministério não informou a respeito da situação da entrega do infliximabe nos outros estados nem sobre os atrasos recorrentes.

Segundo Parra, além da demora na entrega da medicação, os pacientes ainda sofrem com uma defasagem na atualização das diretrizes.

O SUS disponibiliza três medicamentos imunobiológicos para cada uma das doenças. Segundo o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), os pacientes tratados através de planos de saúde têm disponíveis quatro medicamentos para a retocolite ulcerativa e cinco para doença de Crohn.

De acordo com o ministério, o protocolo para a doença de Crohn está sendo atualizado, e a situação do processo pode ser acompanhada na página da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

Fonte: Banda B

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