O encontro levou a uma briga do casal e ao menos cinco tiros foram disparados: três em Karina, um no chão e um de Baltazar em si mesmo.
Mas o que seria mais um caso de feminicídio – dentro dos índices já alarmantes de Mato Grosso – se transformou em uma história de recomeço.
De uma forma inexplicável, após ter a morte cerebral declarada, Karina reagiu exatamente no momento em que os aparelhos que a mantinham viva seriam desligadas.
A discussão
Elias estava fechando sua loja, quando recebeu a ligação de Baltazar. Karina já estava na casa do amigo, que fica próxima a uma praia de água doce da cidade.
Na praia há um restaurante, e quando Baltazar chegou Elias pediu que o dono do estabelecimento, que estava próximo à sua casa, service uma cerveja. O amigo bebeu duas garrafas pequenas.
"E ele [Baltazar] estava insistindo para ela [Karina] voltar com ele. E ela falou que não, que já tinha quatro anos que estava com ele e ele nunca quis assumi-la. Então, agora ela queria mudar de vida, queria outras opções", contou Elias ao LIVRE.
Segundo o amigo e o pai de Karina, o pedreiro José Rocha Cardoso, 56 anos, apesar de o relacionamento ter durado mais de quatro anos, Baltazar nunca quis assumir Karina como esposa.
Ela, inclusive, já estava com outra pessoa, fato que o ex não aceitava.
A discussão entre eles, durante o encontro, ainda agravou com pedidos mútuos de devoluções de presentes que eles haviam se dado quando ainda estavam juntos.
"Ela estava com uma corrente de ouro no pescoço, que ele tinha dado para ela. Ele falou: "então, me devolve minha corrente"", lembrou Elias, dizendo que, em resposta, a jovem pediu uma pulseira que ele usava.
Os disparos
A caminhonete de Baltazar estava encostada do lado de fora da casa e, em determinado momento da discussão, ele foi em direção ao carro.
"Eu achei que a intenção era guardar a corrente, mas ele já pegou a arma. Estava a mais ou menos um metro dela, apontou para a cabeça e puxou o dedo. Deu três disparos", contou Elias, que assistiu toda a cena.
A mãe dos filhos de Elias, Cleudileni Ferreira dos Santos, 29 anos, que também estava na casa, reagiu imediatamente. Pulou em Baltazar para impedi-lo de continuar a atirar em Karina.
Foi quando um dos tiros, então, atingiu o chão.
Ele não desistiu. Se desvencilhou de Cleudileni, colocou a arma em seu próprio ouvido e atirou. Baltazar morreu na hora.
Karina estava sentada e até conseguiu se levantar e andar um pouco antes de cair na porta da cozinha. Ela foi socorrida com vida.
"Nós vimos toda a cena. Foi coisa de cinco, seis segundos", contou Elias.
Dois meses antes, também após uma discussão, Karina havia chamado a polícia. Entregou uma arma de Baltazar. Ninguém sabia, no entanto, que ele havia comprado outra.
"Se eu soubesse que ele tinha um revólver, eu não ia dar espaço para ele. Eu ia ficar colado nele para não deixar ele fazer besteira. A gente não quer o mal de ninguém. Ainda mais eles, que eu gosto tanto", lamentou Elias
Elias conhecia Baltazar desde o primeiro casamento, que também era conturbado.
"Sua filha foi baleada"
Perto do horário de almoço, o pai de Karina, conhecido em Nova Xavantina como seu Zé, estava sentado em um banco de madeira na porta de sua casa, no Bairro Henry, quando viu um amigo e a mãe acenarem e notou a expressão de choro nos dois rostos.
A mulher gritava que algo não deveria ser dito a ele, enquanto o homem insistia: "ele tem que saber".
"Eu já sabia que tinha a ver com a minha filha. Esse homem vivia ameaçando ela. Não para a gente, mas para os outros. Para a gente ele nunca falou nada, falava que nunca faria isso. Mas eu já imaginei logo ali", contou.
"E já coloquei aquilo no meu coração, porque a minha fé já se apoderou dessas palavras. É gravíssimo o caso dela, mas desde o começo eu acreditei".acreditei".