Principal base de proteção para índios isolados do país é atacada por caçadores, dizem indígenas

Por Redação em 02/11/2019 às 11:38:10

Base de vigilância da Funai no rio Ituí, no Amazonas - principal posto de proteção para índios isolados do país

Funai/divulgação

A base de vigilância do Ituí, da Fundação Nacional do Índio (Funai), fincada na terra indígena do Vale do Javari, no Amazonas, foi atacada na noite desta quinta-feira (31) por caçadores armados. É o que informam indígenas da região ao blog.

"Quando infratores saiam da terra indígena numa embarcação, foram percebidos pela guarita da base. Ao serem flagrados e iluminados no rio Ituí, começaram a atirar contra a guarita", afirma o indígena Beto Marubo, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

A base atacada fica na foz do rio Ituí, mais precisamente quando ele desemboca em outro rio, o Itaquaí, no extremo oeste do Amazonas. Nessa rica bacia hidrográfica, o Itaquai é afluente do rio Javari, que por sua vez deságua no rio Solimões.

Servidores da Funai consideram a base de Ituí como fundamental para a proteção da terra indígena do Vale do Javari, que concentra o maior número de povos indígenas isolados do mundo.

Dos 28 registros confirmados de índios isolados no país, 10 deles estão em Vale do Jaguari. Por isso, a base é definida por especialistas como a mais importante de índios isolados do Brasil. É também a maior delas e das mais antigas.

O blog entrou em contato com a Funai na manhã deste sábado (2), mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

O Ataque

A base de Ituí é uma das quatro da Funai que compõem a proteção dos principais rios de acesso à Terra Indígena do Vale do Javari. Segundo Beto Marubo, é o sétimo ataque à base do rio Ituí em um ano e terceiro em 2019.

"Das quatro bases, duas apresentam mais esse tipo de agressão. As bases do Ituí e a do Curaça estão mais visadas no atual contexto, a da retórica oficial de relativizar os direitos dos indígenas e a proteção dessas terras".

De acordo com Beto Marubo, ao perceberem que foram avistados por servidores da Funai que trabalhavam na base, às 21h da quinta-feira (31), os caçadores atiraram usando espingardas, como ocorreu também em ataques anteriores.

"Normalmente são caçadores, pescadores e contrabandistas que estão saqueando a terra indígena. Eles usam a própria escuridão da noite para passar com toneladas de material, carne de caça e de pesca extraídas de forma predatória. Durante o dia eles sabem que o pessoal está em alerta", relata Beto Marubo.

O papel de uma base da Funai como a de Ituí vai além do abrigo a servidores e a realização de fiscalizações. É da base que parte o trabalho de atendimento aos indígenas recém contatados, como os cerca de 30 da etnia Korubo em 2019.

Em março deste ano, o blog revelou detalhes da maior expedição dos últimos 20 anos, que teve o objetivo de fazer contato com esse grupo de índios isolados do Vale do Javari.

A missão evitou conflitos entre os Korubo do Coari (até então isolados) e outra etnia indígena da região, os Matis (já contatados). A megaexpedição partiu justamente da base de vigilância de Ituí, que agora foi atacada.

O posto da Funai faz proteção de outro afluente do rio Ituí, o Coari, onde desde março permanece o "acampamento de contato" dos Korubo. Índios recém contatados precisam do acompanhamento da Funai por meses para evitar sobretudo morte por doenças como gripe e sarampo.

"É a partir dessa base onde as equipes da Funai fazem o monitoramento, a assistência e o atendimento, que é diário. Então, um ataque desses não afeta só a parte de fiscalização, mas também o trabalho de assistência a esses índios", explica Beto Marubo.

"Mais dia menos dia, isso pode acarretar na violência contra os próprios índios recém contatados e isolados. O alerta que fazemos é sobre esse discurso oficial de que as instituições no Brasil são maduras. Não é isso que nós estamos vendo", finaliza o indígena.

A Terra Indígena

A TI Vale do Javari está localizada no extremo oeste do estado do Amazonas e tem fronteira com o Peru, ao fim de uma área de 8,5 milhões de hectares. É a segunda maior terra indígena demarcada do Brasil, atrás apenas da região dos Yanomami, que possui 9,6 milhões de hectares de extensão.

Fonte: G1

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