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O que muda para a economia brasileira com a posse de Biden nos EUA


A chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca nesta quarta-feira, 20, deve forçar o Brasil a mudar a relação que mantém com a maior economia do mundo ao adotar um posicionamento mais prático e menos influenciado por paixões ideológicas. Os Estados Unidos sempre figuraram como um dos principais parceiros comerciais dos brasileiros, e a despeito da desavença entre Jair Bolsonaro (sem partido) e novo presidente, a manutenção desta harmonia é interessante para as duas pontas. Se por um lado o Brasil não quer abalar as relações com o seu segundo principal comprador internacional, é cada vez mais urgente aos norte-americanos barrar a influência da China no globo, e assegurar o bom trato com os brasileiros é fundamental para impedir a expansão do gigante asiático por toda a América Latina. Este esforço mútuo passa pela superação de uma série de entraves, e nenhum deles é maior do que a questão ambiental. Ainda em campanha, Biden afirmou que o Brasil poderia sofrer “consequências econômicas significativas” caso não freasse o desmatamento da floresta amazônica, e propôs a criação de um fundo de US$ 20 bilhões para a preservação do bioma. O recado gerou indignação em Bolsonaro, que reagiu afirmando que a “nossa soberania é inegociável.” O episódio azedou de vez as chances de aproximação do presidente com Biden, mesmo quando já era clara a sua eleição. A amargura de Bolsonaro se manteve mesmo após os resultados das urnas, e o brasileiro se destacou no cenário mundial por ter sido um dos últimos líderes do ocidente a parabenizar Biden pela vitória, além de embarcar na narrativa de fraude eleitoral alarmada por Trump.

A falta de afinidade ideológica, no entanto, não é um ponto fundamental para o relacionamento entre os dois países. A principal prova disso é a ausência de frutos por conta do alinhamento de Bolsonaro aos movimentos de Trump. Apesar de Trump considerar Bolsonaro um “grande amigo”, o sentimento de fraternidade não foi forte o suficiente para evitar que os EUA limitassem a compra do aço brasileiro em agosto de 2020. Antes, o presidente dos EUA já havia retirado o apoio para que o Brasil integrasse a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), considerado o “clube dos países ricos.” Números da balança comercial brasileira em 2020 também expõem como ações pragmáticas valem mais que discursos no mundo dos negócios. Segundo dados do Ministério da Economia, o mercado norte-americano foi o terceiro principal comprador dos produtos brasileiro em 2020 representando 10,2% das exportações. No ano anterior,a fatia dos EUA era de 13,2%. Já a China, alvo constante dos apoiadores do presidente, inclusive do próprio filho, Eduardo Bolsonaro, ampliou a sua liderança nas transações. Em 2020, o mercado do país comandando pelo Partido Comunista pagou por 33,4% de tudo o que os brasileiros venderam para fora, ante 29,2% em 2019. A União Europeia, composta por 27 nações, foi o segundo maior comprador de itens brasileiros no ano passado, com 13,5% do total, ante 14,6% em 2019. O outro lado da balança também foi afetado, e o Brasil comprou menos dos EUA e aumentou a aquisição de produtos made in China. A importação de bens norte-americanos passou a representar 15,2% das compras nacionais no ano passado, ante 17% em 2019. Já a participação da compra com a China passou para 21,8% em 2020, contra 20,2% no ano anterior. O bloco europeu também fica na segunda colocação, com fatia de 16,9% das importações brasileiras no ano passado, ante 17,5% em 2019.

A saída de Trump e a perda de um parceiro ideológico também podem refletir no maior isolamento do Brasil no cenário global, trazendo consequências para as relações comerciais. O risco de se ver em uma posição solitária é intensificado pelo alinhamento que a agenda internacional de Biden terá com os interesses de outros grupos de peso global, como o bloco europeu. “As relações com os Estados Unidos não serão prejudicadas em termos de aliança, mas na relação comercial, todo mundo briga com todo mundo. O problema é que isso pode acontecer não apenas com os norte-americanos, mas também com todos os 27 países que compõem a União Europeia”, afirma Roberto Dumas, professor de economia do Insper. A despeito da preocupação ambiental, os Estados Unidos são o segundo maior produtor de soja do mundo, justamente atrás do Brasil, e as pressões sobre a questão ambiental brasileira podem ser um bom pretexto para que outros países deixem de comprar dos produtores nacionais em benefício ao mercado norte-americano. “Pode ser uma política para ganhar espaço no mundo colocando o dedo na ferida do governo brasileiro. Já temos a França pressionando, e o Biden pode fazer coro e tensionar a questão ambiental diante das exportações de commodities”, diz Joel Sampaio, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Apesar das diretrizes ambientais inflamarem as relações entre os dois países, a preocupação de Biden em frear a presença da China deve falar mais alto. A tendência é que o novo inquilino da Casa Branca mantenha a mesma pressão exercida por Trump para barrar a influência dos asiáticos, principalmente com a adoção da conexão de 5G oferecida pela Huawei. “A questão do 5G vai aparecer na mesa. Vale ressaltar que o Brasil mantém relações muito fortes com a China, e que geralmente elas superam as questões ideológicas, e isso deve imperar para os próximos anos”, diz Sampaio. Neste campo, o Brasil leva vantagem por ser a principal potência e maior economia da América Latina, se tornando um jogador indispensável na disputa pela influência na geopolítica regional. “O Brasil é a principal porta de entrada democrática para a entrada da China na América Latina, e aparentemente está flexibilizando a possibilidade da Huawei participar do leilão do 5G. O Biden não vai exercer uma pressão tão forte quanto Trump, será algo mais pela via diplomática”, diz Dumas, do Insper.

JP

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