#Marcou: Washington "Coração Valente" relembra retorno aos gramados após lesão no coração

Feche os olhos e se imagine, por um minuto, recebendo a notícia de que o seu sonho pode ser interrompido. Foi o que aconteceu com Washington, o "Coração Valente", em 2002.

Vindo de uma temporada de sucesso com a Ponte Preta, que rendeu sua primeira convocação para a seleção brasileira, ele foi contratado pelo Fenerbahçe por US$ 5 milhões. Não demorou muito a se tornar um dos artilheiros da Turquia.

Antes mesmo de completar seis meses no país, Washington foi hospitalizado com dores no peito. Uma bateria de exames detectou uma lesão no coração, e o vínculo com o clube foi rompido. Dois anos e duas cirurgias depois, o problema cardiovascular era página virada, e ele voltava aos gramados, desta vez com a camisa do Athletico-PR, clube que abriu as portas para que finalizasse seu tratamento e recuperasse sua forma física.

Liberado pelos médicos, Washington se preparava para a reestreia, um dos capítulos mais emocionantes da história do futebol brasileiro. O destino foi caprichoso, e o retorno coincidiu com o clássico contra o Paraná, clube por onde ele já havia passado. Aos sete minutos da segunda etapa, abriu o placar e o caminho para a vitória do Furacão. Bastaram 52 minutos para Washington estar oficialmente de volta. Para o "Coração Valente", esse jogo #Marcou.

"Voltar a jogar foi uma luta, e eu nem tinha certeza que poderia voltar. Quando o Athletico me liberou, tudo virou ansiedade", relatou em entrevista exclusiva à Jovem Pan. "Antes do jogo eu não dormi. Na concentração foi uma expectativa. Meus companheiros, jogadores, todos estavam nervosos – por eles e por mim", completou.

A maior preocupação de Washington, no entanto, não tinha a ver com a condição do seu coração. Após muitos exames, ele havia sido tranquilizado pela equipe médica sobre seu quadro clínico. O receio era em relação à técnica e à intimidade com a bola. "A ansiedade era de como eu ia voltar, qual condição. Me preocupava muito com a parte técnica. Quanto à parte médica, me deixaram 100% confiante."

Na ida ao estádio, ele sentiu o carinho de todos que estavam felizes por seu retorno. "Minha volta envolveu muitas pessoas, posso dizer até muitas profissões. Jogadores, comissão técnica, funcionários, imprensa, torcedores, todos que acompanharam meu caso."

Dentro das quatro linhas, o resultado não poderia ter sido melhor. Aos 52 minutos, depois de dois anos longe dos gramados, voltava a balançar as redes e presenciar um dos momentos mais marcantes da carreira de um atleta: ser festejado por ambas as torcidas.

"Eu consegui fazer o gol. Já tinha jogado no Paraná, estava vestindo a camisa do Athletico-PR, e foi marcante. Além de superar todo esse problema, eu fiz um gol que foi apelidado de "gol da vida". Uma das poucas vezes na história que alguém é aplaudido pelas duas torcidas. Eles acompanharam minha trajetória, minha recuperação. Tudo deu certo."

Se antes da partida já foi difícil pegar no sono, depois dos 3 a 0 no placar, a realização rendeu mais duas noites em claro. "Fiquei mais duas noites sem dormir! Era uma sensação de êxtase. Uma grande oportunidade. Uma mistura de sentimentos que me marcou demais."

"Naquela situação, era o Brasil todo com o pensamento positivo. Quem me conhecia, quem só me viu jogar, quem torcia por mim, para que eu voltasse… Tudo foi positivo, e por isso deu certo. A força da oração, do pensamento. Não poderia ter acontecido de melhor maneira."

Sobre a série #Marcou

O futebol brasileiro é terreno de boas histórias, e nada melhor do que contar os grandes "causos" do mundo da bola para matar as saudades do esporte que nos move.

Para curar a abstinência do torcedor durante a paralisação dos torneios causada pela pandemia do novo coronavírus, lembraremos momentos especiais pelo ponto de vista dos próprios personagens, quem viu – e viveu – tudo isso de perto. Memórias, partidas, bastidores, e tudo que #Marcou a trajetória do país do futebol. Não perca!