"Outdoor ambulante" e alimento sempre quente: Startups investem e inovam mochilas de entregadores

Por Redação em 09/07/2022 às 15:20:46

A presença do delivery cresceu nos últimos anos com a criação de aplicativos para pedir comida e se intensificou ainda mais na pandemia – os gastos com essa modalidade de entrega somaram R$ 40,5 bilhões em 2021, um crescimento de 24% em relação ao ano anterior, segundo estudo feito pela empresa GS&NPD, em parceria com o Instituto Food Service Brasil. Sob os holofotes, o setor, então, passou a atrair a atenção para um dos itens necessários para que as entregas ocorram: as mochilas dos entregadores. Duas startups brasileiras focaram nas bags, uma enxergando uma oportunidade para propaganda, outra para resolver um problema que antecede até mesmo os aplicativos.

A Kenti, surgida em São Paulo em 2022, criou uma mochila que visa manter a temperatura dos alimentos. A ideia da empresa surgiu quando um dos fundadores, o físico Delfim Neto, se perguntou porque as pizzas que pediam frequentemente chegavam frias. A partir de então, começou a trabalhar em um protótipo. Com a ajuda de três sócios, iniciou a busca por uma bag que mantivesse a temperatura das entregas, fossem quentes como pizzas e hambúrgueres com batatas fritas, fossem frias como saladas e bebidas. O desenvolvimento do produto demorou dois anos e custou mais de R$ 5 milhões, até chegar em uma mochila que além do sistema de manutenção do calor ou do frio, conta com monitoramento eletrônico através de minicomputadores – foi necessário criar um algoritmo, encontrar formas de manter a bateria durável e também de aumentar o conforto dos entregadores com o peso que carregam, o que foi feito através de um velcro que prende a mochila no banco da moto e mantém as alças baixas, reduzindo a pressão nas costas dos motoboys.

Donos de restaurantes ouvidos pela reportagem relataram terem tido melhoras na logística das entregas, na satisfação dos clientes e, por consequência, no faturamento. A principal diferença na logística é permitir que os entregadores levem mais de um pedido de uma vez, o que reduz o tempo de espera e evita que os profissionais tenham que voltar aos restaurantes para buscar outras entregas. “Acredito que é um grande diferencial na região onde estou, que é muito fria, e o raio [para entregas] acaba sendo maior que o normal. É um desafio conseguir manter a qualidade, a gente gosta de trabalhar com a pizza de uma qualidade muito boa e o delivery sempre prejudica um pouco. O nosso diferencial vai ser conseguir entregar um produto mais próximo da experiência que o cliente consegue ter no meu salão”, relata José Queiroz, proprietário da Duana, pizzaria que fica na zona norte de São Paulo, próxima à Serra da Cantareira.

“Notei um crescimento nas compras neste mês. A recompra também aumentou, às vezes o cliente comprava uma vez e demorava outro para pedir de novo. Agora, nesse período, ele já pediu mais duas vezes ou três vezes. Também tenho notado mais comentários positivos nas redes sociais e sites de avaliações”, relata Luiz Morillo, dono da hamburgueria Big Lui Burgers, na zona sul da capital paulista. “É um investimento que vale a pena, vejo o custo-benefício. O mercado de delivery de hambúrguer é acirrado, e a gente tem que entregar o melhor para o cliente. A médio e longo prazo, o benefício se paga”, avalia Morillo, que também conta ter expandido o raio de entrega.

Além do trabalho feito nas redes sociais, a Kenti busca conquistar clientes pedindo para fazer demonstrações, nas quais coloca um dos pratos do restaurante dentro de mochilas convencionais e dentro das produzidas pela Kenti e deixam lá por algum período de tempo, como 30 ou 40 minutos. A intenção é mostrar a diferença na temperatura ao final. As mochilas são concedidas em formato de assinatura que tem custo por entrega para os donos de restaurantes – a startup fica responsável pela manutenção e por fornecer novos upgrades. “É uma tecnologia inédita, ainda não tem assistência técnica em todo lugar. Vender daria mais trabalho do que alugar”, explica Alessandro Andrade, um dos sócios-fundadores da Kenti.

Os entregadores e funcionários de restaurantes passam por um processo de treinamento, tanto para questões práticas da bag quanto para poderem reforçar aos clientes, sempre que puderem, o diferencial de entregar a comida na temperatura adequada. De acordo com Andrade, embora a empresa tenha começado com restaurantes da região central de São Paulo, ela se expandiu pela cidade e até recebe pedidos de outros Estados, como Rio de Janeiro, Santa Catarina e Acre, enquanto a nova leva de mochilas é produzida. “O delivery tem três problemas: temperatura, sabor e tempo de entrega. Nós resolvemos temperatura e sabor, que sempre andam juntos, e ajudamos a diminuir o tempo, ao permitir que mais de um pedido seja levado na mesma saída do motoboy. Os clientes vão pedir mais, porque vale a pena comer a comida quente e com qualidade”, reforça o CEO.

O ‘outdoor ambulante’

Já a LedBox viu as caixas de entrega como oportunidades. Com milhares de motoboys circulando pelas grandes cidades, quantas pessoas poderiam ver uma campanha publicitária nas mochilas? Essa pergunta levou à criação da empresa, que instalou painéis de led de 40x40cm nos itens e selecionou 70 motoboys para andar pela cidade com os anúncios – eles continuam como autônomos e podem trabalhar com diferentes aplicativos também, embora devam cumprir uma carga horária semanal de 35 horas. A mochila tem mais de 120 componentes eletrônicos, através dos quais é possível rastrear o percurso de cada mochila e saber quantas pessoas estão sendo impactadas. A bag tem um GPS que é conectado a um painel de controle para os anunciantes e mapeia os dispositivos bluetooth de celulares e carros ao redor.

Até agora, já foram feitas campanhas com Amil, Suhai, Pernambucanas, Uber Eats e Nissan. A tecnologia da startup, entretanto, também é capaz de realizar campanhas mais focalizadas e rodar um anúncio em locais e horários específicos. Uma padaria pode fazer sua propaganda ser vista apenas no bairro onde está localizada. Já as pizzarias podem anunciar apenas no período noturno, quando é feita a maior parte das vendas. Os entregadores recebem mais de 40 horas de treinamento teórico e prático no cuidado das mochilas. Segundo a empresa, eles relataram, ainda, ter notado um risco menor de acidentes de trânsito devido à visibilidade gerada pelo painel de led.

É PÁGINA AMP

Fonte: JP

Comunicar erro

Comentários