Mulheres são 61,5% das pesquisadoras cientĂ­ficas que recebem bolsas da Fundect

O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Fundect, tem desenvolvido ações que valorizam e fomentam o protagonismo das mulheres na pesquisa cientĂ­fica.

Por Redação em 08/03/2023 às 16:55:10

O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, CiĂȘncia e Tecnologia de Mato Grosso do Sul), tem desenvolvido ações que valorizam e fomentam o protagonismo das mulheres na pesquisa cientĂ­fica. Um exemplo é a quantidade de bolsas ofertadas. Atualmente, a Fundação possui mais de 552 bolsistas mulheres, nĂșmero que representa 61,5% dos 901 pesquisadores beneficiados.

No entanto, novas ações tĂȘm por objetivo promover a inclusão de mais mulheres na academia e, para além disso, oportunizar que elas exerçam cargos de liderança. "Além das bolsas, a Fundect e o Governo do Estado entendem que é necessĂĄria a execução de ações afirmativas no sentido de atenuar a assimetria de gĂȘnero na liderança de projetos cientĂ­ficos no âmbito do Estado, proporcionando assim um maior protagonismo feminino no desenvolvimento da ciĂȘncia regional", explica o diretor-presidente da Fundect, MĂĄrcio Pereira.

Uma dessas ações é o Edital Mulheres na CiĂȘncia Sul-Mato-Grossense, que tem por objetivo principal selecionar e apoiar projetos de pesquisa e inovação que contribuam para o desenvolvimento regional, mas que tenham um diferencial: sejam coordenados por pesquisadoras mulheres. Os investimentos na chamada somaram R$ 2 milhões em 2022, com previsão de aumento nos recursos para este ano.

Dentre os 26 projetos apoiados pelo edital atual, dois se destacam por lançar luz sobre questões importantes, como a identificação e combate à violĂȘncia histórica cometida contra as mulheres fronteiriças e a necessidade de ampliar as pesquisas sobre a atuação feminina na sociedade atual. Os trabalhos trazem importantes reflexões que podem contribuir para diminuir diferenças e consolidar um Estado mais inclusivo e próspero.

Marinete Rodrigues: Vencendo barreiras e preconceitos pela igualdade na ciĂȘncia

"Mulheres fazem ciĂȘncia, e não em condições especiais ou de forma diferente. Não hĂĄ um modus operandi ou estilo feminino de fazer ciĂȘncia. Cientista pode ser mulher ou homem e ambos podem trazer resultados positivos para a sociedade". Essa é a verdade testemunhada por Marinete Aparecida Zacharias Rodrigues, Doutora em História, professora na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e pesquisadora pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, CiĂȘncia e Tecnologia do Estado (Fundect).

Marinete é uma das muitas cientistas que quebram barreiras e preconceitos de gĂȘnero na ciĂȘncia, provando à sociedade a necessidade do protagonismo feminino. Segundo ela, mais importante do que o aumento das mulheres nas vĂĄrias facetas sociais, como formação e pesquisa, é urgente oportunizar estudos cientĂ­ficos, liderados por elas, que evidenciem a presença feminina.

Com o projeto "GĂȘnero e CiĂȘncia: a participação das mulheres na carreira cientĂ­fica em Mato Grosso do Sul", por meio da "Chamada Fundect 10/2022 - Mulheres na CiĂȘncia Sul-Mato-grossense", a historiadora observou a inexistĂȘncia de investigações cientĂ­ficas com anĂĄlises e resultados aprofundados sobre a participação feminina nas ciĂȘncias e tecnologias (C&T) no Estado.

Conforme dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento CientĂ­fico e Tecnológico (CNPq), somente 32% das Bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ) e Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DTI) são concedidas às mulheres em Mato Grosso do Sul. NĂșmero abaixo do nĂ­vel nacional, cenĂĄrio no qual representam 43,7% dos pesquisadores cientĂ­ficos.

"Ainda que se tenha avançado na valorização da participação das mulheres nas ciĂȘncias, vislumbramos uma sub-representação delas na C&T e em posições de prestĂ­gio como pesquisadoras. Ao considerarmos a ciĂȘncia como exercĂ­cio racional, atrelado ao pensamento arcaico de mulheres como seres inferiores e incapazes de possuir intelectualidade crĂ­tica e objetiva, pois são tidas como excessivamente emotivas, temos a negação do direito em exercer a ciĂȘncia na maioria das ĂĄreas do conhecimento. Um estereótipo que precisa ser superado por não servir de base epistemológica para novas teorias e metodologias", afirma a docente.

A atual pesquisa de Marinete possui raĂ­zes mais antigas em relação à luta pela equidade de gĂȘnero. Durante sua graduação em História, por meio de bolsa de iniciação cientĂ­fica (PIBIC), ela pôde desenvolver um projeto que analisava os processos criminais do século XIX, no perĂ­odo de 1836 a 1889, da Comarca de CorumbĂĄ. Ao estudar a documentação, ela ficou perplexa com a violĂȘncia dos casos contra diversas minorias, principalmente as mulheres.

Desde então, suas investigações foram direcionadas tanto para as relações de poder no Estado (mestrado), quanto para a brutalidade nos mais diversos sentidos contra elas (doutorado). "Conforme avançava nas pesquisas, mais evidĂȘncias iam mostrando que a violĂȘncia era parte de uma cultura presente nos comportamentos e na estrutura hierarquizada de poder polĂ­tico e econômico de uma elite burocrĂĄtica e polĂ­tica. Essa estrutura ainda subjuga os desfavorecidos e marginalizados socialmente em função de seus interesses e prerrogativas polĂ­ticas e econômicas", destaca.

Marinete é também Presidente da Comissão de História da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira JurĂ­dica (ABMCJ) e sofreu preconceitos a cada conquista de sua carreira. "Fui discriminada por ser mulher, por ser mais velha que a maioria dos colegas com os quais estudei e por ser determinada e incisiva no que queria. Mas nada se compara com o preconceito que vi acontecer com mulheres negras, quilombolas, indĂ­genas, PcD e LGBTQIA+ no decorrer da minha jornada acadĂȘmica", alerta.

ClĂĄudia Carvalho: Os desafios enfrentados pelas mulheres fronteiriças

A visibilização e a relevância de mulheres pertencentes às minorias no campo cientĂ­fico como mais uma forma de combate às opressões direcionadas a estas são inadiĂĄveis. Por isso, assim como a professora Marinete, a Doutora em Educação e professora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), ClĂĄudia Cristina Ferreira Carvalho, trabalha como porta-voz daquelas relegadas à invisibilidade.

Com o investimento da Fundect, o trabalho intitulado "Estudo comparativo das redes de bem-estar protagonizado por mulheres em cidades-gĂȘmeas de Mato Grosso do Sul, com base na superação das violĂȘncias, desigualdades e vulnerabilidades" busca a compreensão dos desafios enfrentados por diferentes mulheres nos espaços fronteiriços de modo a ampliar a problematização das distinções e semelhanças que as unem.

De acordo com a Portaria nÂș 213, de 19 de julho de 2016 do Ministério da Integração Nacional, com publicação no DiĂĄrio Oficial da União Mato Grosso do Sul, consideram-se cidades-gĂȘmeas os "municĂ­pios cortados pela linha de fronteira seca ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura, que apresentem grande potencial de integração econômica e cultural, podendo ou não apresentar um encontro com uma localidade do paĂ­s vizinho".

O projeto da pesquisadora ClĂĄudia abarca Dourados e as cidades-gĂȘmeas do Estado: Coronel Sapucaia, Bela Vista, Porto Murtinho, Mundo Novo, Ponta Porã (na faixa Brasil e Paraguai) e CorumbĂĄ (na fronteira Brasil e BolĂ­via).

Segundo a especialista em educação, tais regiões abrigam um profundo fluxo de pessoas, imigrações e produtos, bem como os diversos tipos de violĂȘncia. Mulheres pertencentes às minorias e residentes na fronteira lutam contra o feminicĂ­dio, crimes transnacionais organizados, exploração do trabalho associado a imigração mundial feminina dos paĂ­ses periféricos em crise, trĂĄfico de pessoas para fins de exploração sexual, entre outros.

"O trabalho com mulheres subalternizadas refere-se àquelas que tĂȘm sofrido de modo particular os processos de exclusão, discriminação, desigualdades injustas geridas e gerenciadas pelos sistemas de opressão e exploração que são o capitalismo, o hetero-patriarcado e o colonialismo, reforça ClĂĄudia.

Ela enfatiza a importância de redes de apoio que possam subsidiar suporte necessĂĄrio nestes casos. "Um dos objetivos do projeto é, justamente, elaborar um mapeamento do quantitativo de mulheres que se encontram nesse grupo de fragilidade, podendo ouvir suas experiĂȘncias nos desafios por elas protagonizadas que lhes permitam realizar trocas de saberes e solidariedade ante as violĂȘncias sofridas, construindo redes de solidariedade para um outro mundo possĂ­vel, para além das opressões sofridas. Acredito que a escuta profunda do que elas dizem terĂĄ um impacto social loco-regional significativo, servindo também como referĂȘncia para outras regiões do paĂ­s", salienta.

Este olhar especial às mulheres fronteiriças foi despertado em ClĂĄudia após sua experiĂȘncia na Coordenação da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança PĂșblica de Mato Grosso (SESP-MT). Ao implementar o Centro de ReferĂȘncia em Direitos Humanos, a cientista trabalhou diretamente com o atendimento de populações vulnerabilizadas, principalmente mulheres encarceradas, tema também discutido em sua tese de doutorado.

"Para além da linha de doutoramento, tenho me dedicado a estudar e problematizar em minhas pesquisas, as duas grandes estruturas produtoras de desigualdades: O patriarcado como um sistema de hierarquias de poder desigualdade entre homens e mulheres e, não menos cruel, o racismo", explica a educadora.

"Como pesquisadora da UEMS, destaco a importância de ter um projeto de pesquisa aprovado na Fundect para analisar como as prĂĄticas e as ideologias alicerçadas no gĂȘnero estruturam o conhecimento e a distribuição das oportunidades. Uma sociedade que se quer cientĂ­fica e tecnológica não pode continuar naturalizando a não presença das mulheres no fazer ciĂȘncia", ressalta Marinete.

Para ClĂĄudia, a Fundação desempenha um papel crucial no amparo dos estudos que possuem o potencial em contribuir com as polĂ­ticas pĂșblicas estaduais nas mais diversas ĂĄreas, com ĂȘnfase na união da justiça social, cognitiva, racial e de gĂȘnero.

"O que o patriarcado tem feito é invisibilizar as narrativas e experiĂȘncias das mulheres. Sendo assim, realizar uma pesquisa com mulheres da/na fronteira, em particular nas cidades gĂȘmeas de Mato Grosso do Sul, é um momento muito especial na construção de novas experiĂȘncias acadĂȘmicas, somando à minha caminhada pessoal e profissional, informa.

Investimentos em CiĂȘncia para um estado próspero, inclusivo, verde e digital

A Fundect é a fundação do Governo do Estado responsĂĄvel por fomentar o desenvolvimento cientĂ­fico, tecnológico e a inovação em Mato Grosso do Sul. Ligada à Semadec (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, CiĂȘncia, Tecnologia e Inovação), em 2022 a Fundação se consolidou como referĂȘncia nacional, devido ao grande volume de investimentos realizados, mesmo durante um momento em que a ciĂȘncia, nacionalmente, sofreu desvalorização.

A Fundação também lançou editais inovadores como o MS Carbono Neutro e editais que atendem aos Objetivos do Desenvolvimento SustentĂĄvel (ODS). Atualmente, a Fundação lidera rankings de ofertas de bolsas de mestrado e doutorado no Estado, em comparação com outras fundações estaduais de amparo à pesquisa espalhadas pelo paĂ­s.

Os investimentos em CiĂȘncia, Tecnologia e Inovação em Mato Grosso do Sul, nos Ășltimos 8 anos (2015-2022), somam aproximadamente R$ 180 milhões. Esse montante representa 66% de todo o valor investido na história da Fundect desde que foi criada, em 1998.

Paulo Ricardo Gomes, Fundect

Fonte: Gov. MS

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