Em quatro anos, 535 indĂ­genas tiraram a própria vida

Dado estĂĄ em relatório divulgado pelo Cimi

Por Redação em 31/07/2023 às 17:36:14

No Brasil, entre 2019 e 2022, 535 indĂ­genas tiraram a própria vida. A maior parte, no estado do Amazonas, onde 208 suicĂ­dios foram registrados. Os dados estão no Relatório ViolĂȘncia contra os Povos IndĂ­genas no Brasil, do Conselho Indigenista MissionĂĄrio (Cimi), lançado na Ășltima semana.

Para a psiquiatra e pesquisadora associada da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jacyra AraĂșjo, que estuda o tema da saĂșde mental indĂ­gena, o problema não é recente, mas é comum em populações originĂĄrias do mundo todo. Ela destaca que as taxas de suicĂ­dio no Amazonas chamam atenção e que as possĂ­veis causas não são fĂĄceis de levantar. Mas a realidade de conflitos na região explica muita coisa.

"DĂĄ para dizer que tem um acesso menor ao tratamento em saĂșde mental e que também tem a ver com falta de perspectiva e de assimilação da cultura moderna. Nós observamos um aumento mais recente das taxas de suicĂ­dio no estado do Amazonas. Essa exploração de mineração naquela região trouxe, segundo alguns autores, insegurança e piora da situação de conflito entre a população indĂ­gena e a população não indĂ­gena. Isso provavelmente estĂĄ relacionado com a piora dos dados de suicĂ­dio nessa região, jĂĄ que traz uma instabilidade que predispõe à doença mental."

Boa Vista (RR), 14/02/2023, O presidente do Conselho Distrital de SaĂșde IndĂ­gena Yanomami e Ye'kuana - Condisi-YY, JĂșnior Hekurari Yanomami, fala sobre a questão dos indĂ­genas Yanomami no Distrito SanitĂĄrio Especial IndĂ­gena Yanomami e Yek'uana - DSEI YY.

Parte dos povos yanomami vive no Amazonas. O presidente da Associação Yanomami Urihi, Junior Yanomami, destaca a realidade violenta na região. Ele cita o caso de meninas que chegam ao adoecimento mental, após sucessivas violĂȘncias contra seus corpos, como estupro, gravidez precoce, abuso e a exploração de invasores.

"São crescentes os casos de mulheres sofrendo violĂȘncia, estupro. Tem muitas jovens também que engravidaram de garimpeiros e tem filhos dos garimpeiros. Tem um problema grave psicológico com as meninas yanomami, elas choram, ficam com raiva, isso é um problema."

O Relatório do Cimi aponta, ainda, que somente no ano passado, foram registrados 115 suicĂ­dios de pessoas indĂ­genas, em todo o paĂ­s. Uma das organizadoras do documento, a antropóloga LĂșcia Helena Rangel, cita a pobreza e os contextos de violĂȘncia contra essas populações. No entanto, atribui grande parte do adoecimento mental indĂ­gena, ao racismo.

O Boletim Epidemiológico do Ministério da SaĂșde, de 2021, mostra que a taxa de mortalidade por suicĂ­dio em indĂ­genas é quatro vezes superior à da população não indĂ­gena.

O relatório do Cimi traz um alerta sobre a disseminação do ĂĄlcool e outras drogas nos territórios indĂ­genas. Segundo o documento, essa realidade é um mecanismo antigo dos colonizadores, para "controle dos indĂ­genas, a fim de facilitar o livre acesso aos territórios e a prĂĄtica de crimes". Por outro lado, provoca o adoecimento mental e deixa as populações mais vulnerĂĄveis às ideações suicidas.

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Fonte: AgĂȘncia Brasil

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