No Brasil, entre 2019 e 2022, 535 indĂgenas tiraram a própria vida. A maior parte, no estado do Amazonas, onde 208 suicĂdios foram registrados. Os dados estão no Relatório ViolĂȘncia contra os Povos IndĂgenas no Brasil, do Conselho Indigenista MissionĂĄrio (Cimi), lançado na Ășltima semana.
Para a psiquiatra e pesquisadora associada da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jacyra AraĂșjo, que estuda o tema da saĂșde mental indĂgena, o problema não é recente, mas é comum em populações originĂĄrias do mundo todo. Ela destaca que as taxas de suicĂdio no Amazonas chamam atenção e que as possĂveis causas não são fĂĄceis de levantar. Mas a realidade de conflitos na região explica muita coisa.
"DĂĄ para dizer que tem um acesso menor ao tratamento em saĂșde mental e que também tem a ver com falta de perspectiva e de assimilação da cultura moderna. Nós observamos um aumento mais recente das taxas de suicĂdio no estado do Amazonas. Essa exploração de mineração naquela região trouxe, segundo alguns autores, insegurança e piora da situação de conflito entre a população indĂgena e a população não indĂgena. Isso provavelmente estĂĄ relacionado com a piora dos dados de suicĂdio nessa região, jĂĄ que traz uma instabilidade que predispõe à doença mental."
"São crescentes os casos de mulheres sofrendo violĂȘncia, estupro. Tem muitas jovens também que engravidaram de garimpeiros e tem filhos dos garimpeiros. Tem um problema grave psicológico com as meninas yanomami, elas choram, ficam com raiva, isso é um problema."
O Relatório do Cimi aponta, ainda, que somente no ano passado, foram registrados 115 suicĂdios de pessoas indĂgenas, em todo o paĂs. Uma das organizadoras do documento, a antropóloga LĂșcia Helena Rangel, cita a pobreza e os contextos de violĂȘncia contra essas populações. No entanto, atribui grande parte do adoecimento mental indĂgena, ao racismo.
O Boletim Epidemiológico do Ministério da SaĂșde, de 2021, mostra que a taxa de mortalidade por suicĂdio em indĂgenas é quatro vezes superior à da população não indĂgena.
O relatório do Cimi traz um alerta sobre a disseminação do ĂĄlcool e outras drogas nos territórios indĂgenas. Segundo o documento, essa realidade é um mecanismo antigo dos colonizadores, para "controle dos indĂgenas, a fim de facilitar o livre acesso aos territórios e a prĂĄtica de crimes". Por outro lado, provoca o adoecimento mental e deixa as populações mais vulnerĂĄveis às ideações suicidas.
Fonte: AgĂȘncia Brasil