Eleita em 2019 como a primeira mulher presidente da Recording Academy, instituição responsável pelo Grammy, Deborah Dugan foi demitida do cargo cinco meses após ter assumido, na última quinta-feira (16), sob alegações de má conduta. Agora, faltando apenas quatro dias para a 62ª edição do prêmio, neste domingo (26), ela está processando a organização sob alegações de assédio sexual e irregularidades nas votações e finanças do grupo.
De acordo com Deborah, o afastamento dela da premiação foi ordenado apenas três semanas depois da executiva ter enviado um e-mail para o diretor-geral de recursos humanos da Academia. No processo de 46 páginas protocolado junto à Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego, agência do governo federal que fiscaliza situações trabalhistas no Estados Unidos, a executiva destaca inúmeras acusações contra uma "liderança historicamente dominada por homens".
No documento, Deborah detalha "conflitos de interesse flagrantes, negociação indevida por parte dos membros do Conselho e irregularidades na votação em relação às indicações ao Grammy Awards, tudo isso possibilitado pela mentalidade do "clube dos meninos" e pela abordagem de governança na Academia"
No processo de Deborah Dugan, ela acusa dois membros da Academia de assédio e abuso sexual. A primeira alegação é contra o conselheiro geral da instituição, Joel Katz. De acordo com o processo, eles teriam participado de um jantar de negócios em maio do ano passado. Na ocasião, o advogado disse repetidas vezes que Deborah era "linda", chamando-a de "querida", sugerindo que ele é "muito, muito rico" e que, juntos, ambos poderiam dividir "viagens para suas muitas casas", antes de tentar beijá-la.
Em um comunicado enviado à revista Rolling Stone, os advogados de Katz negaram todas as acusações.
Outra parte do processo diz respeito a uma acusação de estupro contra o antigo CEO da entidade, Neil Portnow, por parte de uma artista estrangeira e membro da Academia cujo nome não é revelado no documento. Deborah alega que foi conduzida para uma reunião a portas fechadas após ter aceitado o cargo de presidente mas antes de ter assumido a cadeira e informada dos processos.
"Um psiquiatra confirmou que a relação sexual entre a artista e o sr. Portnow provavelmente não foi consensual", diz o diagnóstico de um psiquiatra citado no processo. Deborah afirma que a situação já era previamente conhecida entre os membros do Conselho, mas não lhe foi apresentada antes de ela assumir o cargo de CEO.
Ainda de acordo com a ex-presidente, outros membros do Conselho também não estavam cientes do ocorrido, "apesar do fato de que eles supostamente votariam no dia seguinte se o sr. Portnow mereceria um bônus por seu trabalho anterior na Academia".
Uma das partes do processo de Deborah é dedicada à denúncia de que existem inúmeros conflitos de interesse e compra de voto por influência nas indicações e entrega do principal prêmio da música mundial. De acordo com ela, existem "comitês secretos" que decidem quem é indicado ou não em cada categoria, mesmo que a Academia tenha 12 mil membros votantes.
Essas escolhas são feitas por representantes diretos dos artistas e, em casos específicos, pelos próprios nomes que irão concorrer posteriormente. Abaixo, confira alguns dos destaques citados especificamente por Deborah Dugan no processo:
Mesmo com tantas polêmicas, o Grammy 2020 acontece neste domingo (26), com transmissão do canal fechado TNT para o Brasil. A cerimônia terá shows de Ariana Grande, Billie Eilish e outros artistas.
*Com Estadão Conteúdo
Fonte: JP